17 de mai. de 2013








Criatividade e bom-humor dão o tom do espetáculo
Por George Carvalho



“Você bem sabe: eu não lhe prometi um mar de rosas…” E quem foi ao Teatro Armazém no dia 27 de janeiro não recebeu do diretor do espetáculo promessas de “mar de rosas” ou de “sol sempre brilhando”. Pelo contrário, foi de pronto avisado do que estava por vir: um texto divertido e empolgante abordando a temática homossexual, numa brincadeira que evoca histórias e memórias da própria cena teatral pernambucana. Ao entrar no teatro, a própria disposição da platéia e do palco já chama a atenção, denunciando que o que está para ser presenciado passa longe do convencional. Tanto que o diretor Carlos Bartolomeu, em fala que antecede a entrada dos atores, dedica a apresentação da Cia. do Chiste a Greetchen e Tammy.


Dessa forma, os três atores – Rogério Bravo, Rodrigo Cunha e Pascoal Filizola – apresentam pequenos esquetes em duas horas de espetáculo que passam completamente despercebidas. A peça é resultado da junção de dois textos: Atores da noite e O coração é um órgão irresponsável. O primeiro é de autoria de Carlos Bartolomeu – o mesmo que dirige o espetáculo e faz a saudação inicial – e o segundo, de Walter Santos. No primeiro ato é encenado o texto de Bartolomeu: a cena teatral local é representada e semelhanças com a vida de alguns personagens recifenses não são meras coincidências. Alguns “casais-amigos” passeiam de moto, ocultam relações e sentimentos, discutem, encontram-se no cinema, no bar, a caminho do trabalho ou da escola… Tudo isso num intervalo de tempo que se faz presente nas pequenas introduções, feitas pelos próprios atores, que antecedem as diversas histórias.



Depois de um breve intervalo e uma troca de roupa em pleno palco que deixa o público atento ao que estar por vir, cada ator tem a oportunidade de protagonizar um caso distinto, com passagens despretensiosas por diversos gêneros da comédia. E entre conselhos amorosos para driblar (ou não) as armadilhas de um órgão irresponsável chamado coração, o espetáculo vai chegando ao fim sem que haja uma explicação plausível para o que acaba de ser representado. Mas essa explicação é completamente dispensável: o epílogo da peça, com algumas frases ditas ao longo da encenação, vem atestar o veredicto de que o coração é um órgão irresponsável! E eis a explicação para o que acaba de ser representado.


A segunda parte é melhor que a primeira. O provincianismo da representação da cena pernambucana no primeiro ato, situando as ações em determinada hora e minuto, deixa o texto um pouco enfadonho, mas nada que comprometa o humor característico do espetáculo. Contudo, é no segundo ato que a atuação do elenco chega ao ápice, com destaque para as cinco dicas de um publicitário gay, interpretado por Pascoal Filizola, para descobrir se um homem é homossexual; e o caso do supermercado, quando Rogério Bravo dita uma receita enquanto os outros dois atores cantam e dançam ao seu redor o refrão “encontrar alguém”.




Cenário e figurino enxutos e poucos atores em cena: a montagem segue a linha do menos é mais, o que ressalta a criatividade do diretor na construção do espetáculo. A iluminação se faz presente harmoniosamente e a trilha sonora pede “one more time”, encaixando-se com perfeição à temática apresentada. Os atores, bem entrosados, protagonizam cenas de beijo, nudez, música e dança durante a peça. A interação com o público, apesar de tímida, se faz presente. O recurso podia ser mais explorado. Mesmo assim, os atores conseguem boas tiradas, entregando pirulitos, línguas de sogra ou sentando-se no colo dos espectadores.



Atores do Órgão Irresponsável, da Companhia do Chiste: os comediantes de PE, ganhou o prêmio de direção no 13° Janeiro de Grandes Espetáculos, promovido pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe). A montagem também foi indicada para os prêmios de melhor espetáculo adulto, trilha sonora/ direção musical e melhor ator, com Rodrigo Cunha. Um espetáculo criativo e bem-humorado para ser visto mais de uma vez!





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