5 de jun. de 2013

TEATRO APOLO (PROGRAMAÇÃO)




CURTA CENA – 2006 – III MOSTRA TEATRAL DE CENAS CURTAS DE PE

Realização do Grupo Teatro Marco Zero, a III Mostra Teatral de Cenas Curtas de Pernambuco apresentará uma seleção de 30 espetáculos de curta duração (10 minutos), nas categorias adulto, infantil e bonecos. A programação vai apresentar, de maneira dinâmica e diversificada, oito cenas a cada noite, mais seis na mostra infantil, reunindo as várias tendências do fazer teatral em Pernambuco.

R$ 5 (preço único)





MOSTRA INFANTIL

09
16H

Grupo Griô (Amigos, mas não para sempre. Direção: Karla Jiliana)

Fulanos Cia. de Teatro (Decripolou Totepou. Direção: Odília Nunes)

Gestus (Nascimento do Zoquete. Direção: Guto Lustosa)

Consultoria de Ações Culturais (O macaco malandro. Direção: Jadenilson Gomes)

Trup Errante (Brincando de montar. Direção: Thom Galiano)



MOSTRA ADULTA:

08
19h30

Hórus Visão Cênica (O homem, a mulher e o fim. Direção: Lano de Lins)

Companhia do Chiste (Antes do beijo. Direção: Carlos Bartolomeu)

Cia. Santa Fogo (Eu, Medéa – filha de Hécate. Direção: Carlos Ferrera)

Cênicas Companhia de Repertório (Os figuras. Direção: Antônio Rodrigues)

Quebraperna (Hecatombe. Direção: Adriano Cabral)

La Mama de Boneca (Pizza, coca e crime – o dia em que papai ubu cagou no Brasil. Direção: Rodrigo Dourado)

Texto Extemporâneo (Nihil. Direção: Vavá Paulino)

Cia. Parcas Sertanejas (A voz da mulher. Direção: Augusta Ferraz)



09
19h30

Cia. Máscaras de Teatro (Norman e o Motor da Sala. Direção: Sebastião Simão Filho)

Cia. de Teatro Omoiós (Transbordamento. Direção: Manoel Constatntino)

Grupo de Teatro Canto Livre (O médico. Direção: João Ferreira)

Dois Pontos (Meninos não dançam ballet. Direção: Danilo Galvão)

Troupe Esoantalho (Aviso da lua que menstrua. Direção: Edes di Oliveira)

Leda Santos (Gesto sonoro quase mudo. Direção: Leda Santos)

Pilares do Recife (Beira de rio. Direção: Quierles Santana)

Grupo Engenho de Teatro (O conto de uma menina dor. Direção: Eron Villar)

Totem (Como uma lua alta sobre a impossibilidade. Direção: Fred Nascimento)



10
19h30

Quadro de Cena (G’Dausbbah. Direção: Samuel Santos)

Kleber Lourenço (Negro de estimação. Direção: Kleber Lourenço)

MagiLuTh (Corra. Direção: Marcelo Oliveira)

Grupo de Teatro Nu (O romance da rola misteriosa. Direção: Neemias Dinarte)

Grupo da Quinta (Terezinha, vitória e os durans. Direção: João Denys)

Hilton Azevedo (Que cena? Direção: Hilton Azevedo)

Karina Falcão (“It’s a sad, sad fall”. Direção: Karina Falcão)

Grupo Cênico Calabouço (Amêndoa amarga, venenosa e pura. Direção: Breno Fittipaldi)

22 de mai. de 2013

COMPANHIA do CHISTE - OS COMEDIANTES DE PE: UBU - CARLOS BARTOLOMEU

COMPANHIA do CHISTE - OS COMEDIANTES DE PE: UBU - CARLOS BARTOLOMEU

UBU - CARLOS BARTOLOMEU

(...)
Aquilo que, imodestamente, assumo como minha encenação, não é somente a materialidade de uma autoria, é realização de desejo, construção e consumação do ato poético.


Na sombra de cada gesto, na intimidade de todo movimento, estava o ato arquitetado em silêncio, (1) com o auxílio de minha própria gestualidade.

A colocação apresenta uma boa dosagem de intensidade e drama, despertando em mim o riso dessa tentação de tecer aproximações com o testemunho de André Breton ao reconhecer em Ubu Rei, de Alfred Jarry, "a encarnação magistral do eu nietzschiano-freudiano, que designa o conjunto dos poderes desconhecidos, inconscientes, recalcados" [VIRMAUX, 1978, p.128]

Atento para auto-ironia, entretanto, admito, o "feliz acaso", as arbitrariedades do inconsciente, (2) que segundo Sábato Magaldi, ao lado de uma lúcida aplicação presta o mesmo serviço à criação teatral.

“Conta Stanislávski que, ao preparar George Dandin, não saia dos clichês habituais. Todos os esforços de penetração do papel não logravam atingir mais que os efeitos exteriores. Até que um traço de maquilagem, feito involuntariamente, mudou a expressão de sua fisionomia, trazendo-lhe a intimidade necessária com a criatura de Molière." [ 2000, p.29]


, No testemunho, reconheço certo parentesco, ao meu modo de trabalhar o texto de Jarry. De o livre desenrolar do inconsciente, e do gosto nunca perdido de brincar, reuni quanto de acaso me era necessário à criação e a fruição desse estado.

Da montagem, considero como ênfase desse processo, a mimesis dos bonecos de luva, o tom acentuado de bufonaria orquestrando os corpos dos atores. Da cena de abertura até ao desfecho da encenação, os trejeitos de bonecos de luva, marionetes e brincadeiras marcaram o palco. Através deles, o cáustico sentimento da solidão de infante cruel, que era Pai Ubu, sua cruel relação com os outros e a vitória inquestionável de sua parvoíce sobre a inteligência, construirão um espelho para nossas consciências. Ubu



"torna-se rei graças a sua tremenda estupidez, à bestialidade sem limites, desligada de qualquer vislumbre de consciência. (...) Ubu Roi tornou-se o retrato feroz e grotesco dos vencedores, a imagem fiel do monstro que domina os homens, por ter pedido a humanidade. (...) Ubu tem enorme barriga, não toma banho, come com uma cupidez animal. Está de pé a figura rabelaisina, com um vigor que não se pode conter nos cenários convencionais do teatro. Além de todas essas características, Ubu é contagiante de simpatia, comunicativo, extremamente "popular". O escárnio maior de Jarry é fazê-lo sempre vitorioso, condenado ao sucesso..." [MAGALDI, 1989, pp. 210-11]



Das imagens que me surpreendem nas minhas encenações, considero que a bufonaria da personagem Ubu, se identifica ao mesmo nível de tragicômica teatralidade a uma persona mais longínqua, seu oponente social e político, Penteu, soberano de Tebas, personagem de As Bacantes de Eurípedes.

Na tragédia escrita pelo pai do moderno teatro ocidental, a origem está no debate entre as leis e a ordem emanadas do estado e a dinâmica de uma religiosidade comprometida com a irrupção do inconsciente.

Eurípedes orienta o enfrentamento tipificando-o através dos conceitos emitidos pelas duas personagens. Os corpos e os gestos de Penteu e Dioniso se apresentam como um vocabulário, passíveis de traduzirem a intimidade mais remota dessas personas.

No movimento e na máscara do deus dir-se-ia repousar os gêneros sem conflito algum. Já em Penteu, a feminilidade é expulsa de sua personalidade e com ela os indícios gestuais.

O ritmo autoritário e unificado com o qual, ele se posiciona, o torna presa fácil para o múltiplo Dioniso.

Numa atmosfera circense, o deus, um Augusto seria e o outro, em Branco clown se deixaria expressar.

A geografia da exceção que circunda Ubu, sua louca necessidade de usufruir as vantagens de ser um governante, é arremedo e fazem-no soar como antítese complementar do soberano de Tebas; Ubu, sombra em negativo de um Branco. Apesar disto, sua personalidade popular e carismática faz com que ele estabeleça sobre nós, espectadores, aquela admiração com a qual nos vemos assistir aos clowns augustíssimos. (3)

Todo gesto é estranho quando desmembrado de seu entorno. Um recorte abstrato adquire, apenas em parte traduzível, tornando-se mesmo, irreconhecível, quando amputado de sua origem. Tão remoto quanto perturbador é o seu significado. Distanciando-se do motivo central, no remoto e no aparentemente sem importância, é que o método faz... Sentido. (...)

In AS ARBITRARIEDADES DO INCONSCIENTE - A TESTEMUNHA CRIATIVA NAS ENCENAÇÕES. EDIÇÃO cia do chiste 2012





uma das edições da cia do chiste

17 de mai. de 2013

A
VIDA
DIVA







Criatividade e bom-humor dão o tom do espetáculo
Por George Carvalho



“Você bem sabe: eu não lhe prometi um mar de rosas…” E quem foi ao Teatro Armazém no dia 27 de janeiro não recebeu do diretor do espetáculo promessas de “mar de rosas” ou de “sol sempre brilhando”. Pelo contrário, foi de pronto avisado do que estava por vir: um texto divertido e empolgante abordando a temática homossexual, numa brincadeira que evoca histórias e memórias da própria cena teatral pernambucana. Ao entrar no teatro, a própria disposição da platéia e do palco já chama a atenção, denunciando que o que está para ser presenciado passa longe do convencional. Tanto que o diretor Carlos Bartolomeu, em fala que antecede a entrada dos atores, dedica a apresentação da Cia. do Chiste a Greetchen e Tammy.


Dessa forma, os três atores – Rogério Bravo, Rodrigo Cunha e Pascoal Filizola – apresentam pequenos esquetes em duas horas de espetáculo que passam completamente despercebidas. A peça é resultado da junção de dois textos: Atores da noite e O coração é um órgão irresponsável. O primeiro é de autoria de Carlos Bartolomeu – o mesmo que dirige o espetáculo e faz a saudação inicial – e o segundo, de Walter Santos. No primeiro ato é encenado o texto de Bartolomeu: a cena teatral local é representada e semelhanças com a vida de alguns personagens recifenses não são meras coincidências. Alguns “casais-amigos” passeiam de moto, ocultam relações e sentimentos, discutem, encontram-se no cinema, no bar, a caminho do trabalho ou da escola… Tudo isso num intervalo de tempo que se faz presente nas pequenas introduções, feitas pelos próprios atores, que antecedem as diversas histórias.



Depois de um breve intervalo e uma troca de roupa em pleno palco que deixa o público atento ao que estar por vir, cada ator tem a oportunidade de protagonizar um caso distinto, com passagens despretensiosas por diversos gêneros da comédia. E entre conselhos amorosos para driblar (ou não) as armadilhas de um órgão irresponsável chamado coração, o espetáculo vai chegando ao fim sem que haja uma explicação plausível para o que acaba de ser representado. Mas essa explicação é completamente dispensável: o epílogo da peça, com algumas frases ditas ao longo da encenação, vem atestar o veredicto de que o coração é um órgão irresponsável! E eis a explicação para o que acaba de ser representado.


A segunda parte é melhor que a primeira. O provincianismo da representação da cena pernambucana no primeiro ato, situando as ações em determinada hora e minuto, deixa o texto um pouco enfadonho, mas nada que comprometa o humor característico do espetáculo. Contudo, é no segundo ato que a atuação do elenco chega ao ápice, com destaque para as cinco dicas de um publicitário gay, interpretado por Pascoal Filizola, para descobrir se um homem é homossexual; e o caso do supermercado, quando Rogério Bravo dita uma receita enquanto os outros dois atores cantam e dançam ao seu redor o refrão “encontrar alguém”.




Cenário e figurino enxutos e poucos atores em cena: a montagem segue a linha do menos é mais, o que ressalta a criatividade do diretor na construção do espetáculo. A iluminação se faz presente harmoniosamente e a trilha sonora pede “one more time”, encaixando-se com perfeição à temática apresentada. Os atores, bem entrosados, protagonizam cenas de beijo, nudez, música e dança durante a peça. A interação com o público, apesar de tímida, se faz presente. O recurso podia ser mais explorado. Mesmo assim, os atores conseguem boas tiradas, entregando pirulitos, línguas de sogra ou sentando-se no colo dos espectadores.



Atores do Órgão Irresponsável, da Companhia do Chiste: os comediantes de PE, ganhou o prêmio de direção no 13° Janeiro de Grandes Espetáculos, promovido pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe). A montagem também foi indicada para os prêmios de melhor espetáculo adulto, trilha sonora/ direção musical e melhor ator, com Rodrigo Cunha. Um espetáculo criativo e bem-humorado para ser visto mais de uma vez!





6 de mai. de 2013


Flash Clown-ESTÓRIAS DE BÔBOS
                                         Uma montagem de Carlos bartolomeu

 

ILUMINAÇÃO

REGINA CAMPELO

FIGURINO

HENRIQUE CELIBI

OPERAÇAO SOM

FLAVIA RENY

GRAVAÇÃO

FRANCISCO ALEXANDRINO

OPERAÇÃO LUZ

REGINA e MARCELO FRANCISCO

SONOPLASTIA

CARLOS BARTOLOMEU

ELENCO CALIXTO NETO Paganino

FRANCISCO ALEXANDRINO Bobô

IRANDHIR CLERISTON Manivela

O CORAÇÃO OCULTO

O coração das artes cênicas é o Espetáculo. A atuação e a voz da atuação, encenadores e o público reunidos formam uma unicidade indissolúvel: a representação, o Espetáculo.

Gesto e Dança são a essência do Drama, e o texto escrito, um recurso por vezes, demasiado enfático.

A literatura dramática pretende o eterno, as artes plásticas ligadas a cena teatral, música e, todo aquele suporte que supõe a humana noção de durabilidade, aspiram o sempre.

Apenas o espetáculo em sua temporalidade, aceita a dissolução, o fim.

O espetáculo, na arquitetura da não permanência se irradia, se dilui e se preserva.

É no contínuo de vida e morte que ele extrai sua vitalidade. É na esperança de que a vida, não incluindo desfechos insolúveis, acende a poesia e restabelece o prosseguir.

O espetáculo fingindo repetir-se, interpreta positivamente a humana aspiração de encontro com a essência superior.

Este trabalho sobre a gestualidade (!) de CLOWNS e CLÓVIS, AUGUSTOS E BRANCOS, mimando trejeitos populares e os das elites, teima na reverente obsessão de apreender nos corpos humanos, o lirismo. Aplica-se a recuperar no discurso das brincadeiras selvagens da programação trash da TV, o que de humanamente terno possa estar oculto.

No lixo e no periférico há poesia, ao menos, possibilidades dela. Aceitar a sombra é pressagiar a luz.

Quem tiver olhos, veja...

Carlos Bartolomeu



uma graça de instante do espetáculo O CIRCO DO FUTURO

5 de mai. de 2013


HENRIQUE CELIBI

na sua atuação de MADLEIA + OU - DOIDA

ENCENAÇÃO - CARLOS BARTOLOMEU

REALIZAÇÃO - COMPANHIA DO CHISTE



FLASH CLOWN

HISTÓRIA DE BÔBOS

roteiro e direção CARLOS BARTOLOMEU

"Ars Gratia Artis",

Há pessoas que valem a pena vc se perguntar onde foi seu possivel erro. Muitas vezes abdicamos de ser quem somos pelo afeto que sentimos. Quem nos influencia a tal 'queda' não pode nem deve ser um amigo... Ao longo de minha viagem como criador, amei profunda e silenciosamente todos os intérpretes aos quais conduzi no meu modo de ver, a momentos inspiradores, a realizações que para muitos foram o e...ncontro com a intimidade de suas poeticas. Não digo que me surpreenda, mais fico nitidamente questionador qdo de fato sinto e reflito a flagrante 'ausência' de muitos artista que por minhas mãos passaram... Não é a distância fisica que me refiro, nem tampouco o desinteresse com a minha própria pessoa. Tenho aprendido muito sobre silencio, abandono e perdas ao longo dessa via iluminada e tb sombria que é a existência... Entendo como pode deve ser dificil e muitas vezes doloroso conviver e refenciar aqueles aos quais não nos sentimos inclinados ou que são diversos de nós, aqueles que não nos completam... Posso ter sido um desses, sim! Porem, ao atrevimento do silêncio juntar-se a negação da minha existencia, quando esta existência foi clara e substancialmente uma fonte de descoberta e estrada aberta para a realidade criativa desses seres, fica dificil, achar que está tudo bem com tais artistas. Digo sem reservas e pudor que graças a criação por mim - compartilhada -, muitos; senão todos, puderam trazer de dentro de si para o mundo a potencia de poesia, a festa da expressão da alegria que em mim mobiliza e refaz todo ritual de criar. Pergunto-me como um artista verdadeiro pode ser descortes com aquele que esteve ao seu lado e o sustentou na criação e no parto desta. Não me envergonha ser quem sou, como fui e do que faço como ARTISTA, porque eu o sou. Tive de meus mestres amados toda ilustração de ser regenerador e compassivo no exercício da exposição de ser e viver. Isto que escrevo agora não é um rompante, um desassossego, tampouco uma bravata sobre as difuculdades comunicacionais inter pares. Antes é meu carinho perguntador que ternamente questiona, porque vcs imaginam que a história não verá estas burlas de informação a ela própria? A história sabe como se defender. Ela realiza isto com a VERDADE! Não tenham dúvida, a verdade prevaleçe... é tudo uma questão de tempo, e tempo como vocês bem sabem nem existe, é apenas uma invenção humana. Portanto...

7 de abr. de 2013

                                 A VIDA DIVA Texto e direção CARLOS BARTOLOMEU






ARTES CÊNICAS/ CADERNO C-  DP

Atrizes refazem o caminho no palco

Publicado em 10.09.2005

Augusta Ferraz, Magdale Alves e Nicole Pastana evocam lembranças de grandes intérpretes do cinema no espetáculo A vida diva



JANAÍNA LIMA

Em ano de poucas estréias teatrais, uma nova peça é celebrada sempre com entusiasmo. E quando a montagem reúne atrizes experientes como Magdale Alves e Augusta Ferraz, as expectativas dobram. Hoje à noite, no Teatro Apolo, as duas e mais Nicole Pastana – atriz mais jovem, mas que vem se destacando a cada peça – apresentam ao público seu novo trabalho: A vida diva, montagem de Carlos Bartolomeu. Outro motivo de comemoração é que nos últimos anos é cada vez mais raro este diretor fazer trabalhos fora da esfera da Universidade Federal, onde leciona.

Além das expectativas quanto ao elenco a a direção, A vida diva também desperta curiosidade quanto ao enredo. A montagem não segue uma trama tradicional, com personagens de perfis delimitados e uma historinha regular. As três atrizes interpretam exatamente o que elas são, três atrizes, que nem chegam a dizer os nomes para a platéia.

Elas simplesmente chegam e começam a relembrar momentos marcantes de suas carreiras, que no final se confundem com cenas e textos de filmes famosos como La strada, de Fellini, e Como era verde meu vale, de John Ford.

“Bartolomeu fez na verdade um roteiro, com trechos de filmes e de romances. Essa seleção destaca as grandes divas do cinema, frases clássicas, que entraram para a história e ficaram gravadas na memória”, explica Augusta Ferraz, esclarecendo que é daí que vem o título da montagem.

As “divas” dessa história aparecem numa casa escura, onde se abrigam numa noite de tempestade. “Elas buscam abrigo numa vitrine de uma loja abandonada e, esperando a chuva passar, começam a interpretar para elas mesmas”, conta Magdale Alves.

Segundo as atrizes, não há exatamente um diálogo entre as personagens. O texto surge como evocação, a partir da observação de objetos esquecidos na loja. Um ramos de flores secas lembra o ramalhete de rosas deixados no camarim por um desconhecido, um velho rádio traz à tona aquela canção amorosa que marcou, o baruho da chuva lembra outro temporal, que teve direito a beijo sob o guarda-chuva. “É como se, com esses depoimentos, elas refizessem o caminho do ator”, diz Augusta.

Já que o assunto é cinema, as atrizes foram buscar referências nas verdadeiras divas do cinema para compor suas personagens. Augusta Ferraz diz que investigou o universo de Ava Gardner, mas também pinçou algo de Dercy Gonçalves. Nicole Pastana trabalhou a partir de Audrey Hepburn, e Magdale Alves visitou as obras de Doris Day, passando pela brasileira Dalva de Oliveira. “O cinema está muito presente na vida da gente. Quando comecei a carreira de atriz, via muitos filmes. Sempre fui buscar algo no cinema para compor minhas personagens”, relembra Magdale, que, há umas duas décadas atrás, correu para arranjar alguém que tivesse um vídeo para assistir a Boca de Ouro, quando fez a peça no teatro.

O espetáculo utiliza figurinos anos 50, assinados por Marcondes Lima (que também fez o cenário), e trilha sonora do próprio diretor. Bartolomeu pinçou músicas orquestradas, bem ao estilo de Hollywood, e hits como As time goes by.


ENTREVISTA DO ENCENADOR ALEX GOMES
concedida  a CARLOS BARTOLOMEU / PROJETO DE PESQUISA FIXANDO O FUJIDIO - DPTO TEORIA DA ARTE/CAC-UFPE




Alex Gomes - Eu sempre gostei de teatro, sempre fiz teatro em casa, com a família, com as pessoas, na escola também. Isso é uma coisa inerente a minha personalidade. Eu sempre gostei de teatro, sempre quis participar de brincadeiras. Fazia teatro como uma brincadeira. Aí eu fiz um curso normal. Depois eu vi que era necessário fazer uma coisa que me agradasse, então eu fiz a opção por teatro. Na época era o curso de formação de atores na Universidade Federal de Pernambuco que ficava no Benfica. Eu fiquei muito entusiasmado com os primeiros contatos. Se bem que a gente não começou no Benfica. O curso era localizado no Ed. AIP, no 13o andar. Lá, funcionavam os cursos de direção e de interpretação que duravam 3 anos.



Ah! Pessoas extraordinárias. Eu não consigo esquecer. Joel Pontes, Hermilo Borba Filho, Nair ... (preparadora corporal). Milton Baccarelli, Bacarelli, eu batia direto com ele. Porque era uma pessoa avançada, com uma visão atual da realidade, uma pessoa livre, que tinha uma abertura para trabalhar.





Na minha família temos uma tradição religiosa muito arraigada, que é a questão de que todo primogênito da família do meu pai era dedicado ao sacerdócio. Por isso tinha sempre um filho ou uma filha que ia para o seminário ou para o convento, e eu fui educado para isso. Mas eu não aceitei, fui rebelde e isso foi muito difícil para mim. Quando eu optei pelo teatro eu já tinha feito o curso clássico. Eu estava interessado em estudar Humanas, mais especificamente Arte, mas sempre era convidado por amigos para participar de festas, de atividades culturais, até da comunidade. Já me libertei de um estigma, agora vou fazer o que eu quero. Aí fiquei fazendo um curso de teatro. De início os amigos e a família não sabiam, pois era uma coisa muito minha, e por isso não comentava esse assunto com ninguém. Mas depois, os meus amigos começaram a perguntar e a reclamar, sem chegar, no entanto, a exigir que eu abandonasse o teatro.



Eu fiz o Curso de Ator, mas como era uma família, nós participávamos também do trabalho de direção, porque os alunos que eram do curso de formação, eles também tinham participação com o pessoal que fazia encenação. Participava dos exercícios, das montagens, participávamos desse trabalho de uma forma mais global, uma forma mais sistemática.



Sempre no grupo existiu a pressão ... você, você leva mais jeito, trabalha melhor essa questão. Espontaneamente eu fui assumindo a função e, quando saí da escola, eu fui convidado pelo Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco para trabalhar e organizar um grupo de teatro. Eu comecei a trabalhar como encenador especificamente, e como ator também. Mas a situação que era colocada na época era trabalhar a montagem, a visão total do espetáculo. E o que designava um diretor no grupo era se você tinha mais talento... Nesse período, eu dividia a encenação com outro colega, Frederico de Francisci.



A influência era exatamente a questão da revolução, da questão da mudança. Era um regime difícil. Nosso comportamento naquela época feria a suscetibilidade, a estética do novo, da revolução.

O Hermilo era muito importante, mas Baccarelli era um revolucionário. Era uma pessoa muito atual para sua época. Ele era uma pessoa muito dinâmica. Ele teve um certo apelo pela sociedade. Ele fez montagens que ninguém teve coragem de fazer... O teatro era um mito e a gente não fazia teatro como uma brincadeira, mas como uma mudança. O que me influenciou mais foi a vida.

Era extraordinário. Era um romantismo, não deixa de ser romântico, você tinha de ser puro. Era a felicidade de estar junto se abraçando, de dividir, de mostrar um novo homem.

No grupo, no TAO. Era o Teatro Ambiente de Olinda. Assim que saímos da universidade, nós fomos convidados a trabalhar no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco e nesse trabalho foi se arregimentando esse grupo. Mas na cena em geral havia toda uma guerra aberta e declarada... Não havia espaço para um novo grupo, uma nova estética... Não era um grupo profissional, existia uma estrutura montada que dificultava a montagem de muitos encenadores, desde o Teatro de Estudante de Pernambuco, que foi incendiado, até nós, que fomos massacrados. A gente conhecia Stanislávski, Grotowski, teóricos, mas a gente vivenciava o novo mesmo. O Teatro Ambiente tinha a proposta de escutar, analisar, discutir e não impor.



Eu acho que umas 15 ou 20 pessoas no todo. Não só trabalhávamos com a parte da interpretação, nós trabalhávamos a indumentária, a encenação, cenografia... fazíamos uma oficina, a gente ia delineando o perfil da montagem... Era muito dinâmico. Agradeço a Bartolomeu por tirar esse coelho da cartola, de mostrar esse trabalho que foi muito importante para o teatro.

A gente tinha muito medo ... Nós nos preocupávamos com o "será que vão nos matar?". Começamos a fazer mesas redondas, a trabalhar com laboratórios ... Ditadura séria.

Até se você tomasse uma coca-cola. Tinha que tomar Guaraná Antártica que era nacional ... Mas nós víamos que, se nos distanciássemos dessa realidade, perderíamos o tom crítico ... E uma coisa é você encenar pelo que você lê, outra é você sentir na pele. Tanto que todas as montagens que foram feitas no MAC de Pernambuco, elas tinham esse viés de crítica social. Nós montamos o Molière, mas a gente fazia esse Molière não só do ponto de vista de resgatar esse teatro de rua, o teatro popular, o teatro novo. Nós fazíamos Molière porque ele fazia crítica à sociedade daquela época, e nós fazíamos crítica à sociedade em que estávamos vivendo.



O processo era mais orgânico, era um processo que você sentisse, que você enquadrasse a sociedade naquele momento. Agora as questões técnicas ... Nós tínhamos o conhecimento de Brecht, Stanislávski, Grotowski, e isso era de fluir, a gente não ia ao pé da letra. A gente viu o ponto de vista de liberdade, temos que ter liberdade. A gente sempre utilizou o que nos chegou às mãos de uma forma libertária, de uma forma autônoma...



O texto norteava a forma do nosso trabalho. Nós líamos não só o que estava explícito, nós líamos o que estava implícito. Nós líamos o texto e a crônica da época e, através disso, víamos como a população reagia naquela época diante daquelas montagens. E isso era o que fortalecia o nosso desejo de revolucionar. Nós não tínhamos muito contato com José Celso e outros encenadores famosos, mas de repente o que a gente fazia aqui estava sendo feito em São Paulo, no Rio, em Londres, Nova York. Isso causava um frisson na cidade. Não era premeditado, nós fazíamos por natureza. Por liberdade de expressar, de brincar.

Pra gente o que é revolução? Pra vocês o que é revolução? É quebrar aquilo que se está fazendo ... Mudar. A cena pernambucana, eu não vejo muita coisa no sentido literal, nós fazíamos um cenário onde ninguém tinha feito antes ... Nós usávamos o palco que não era o mesmo palco elisabetano, não era um palco de arena, o tablado, era um outro tipo de palco. A gente levava a montagem para a praia, era essa a diferença. A gente fazia um figurino avesso a toda a indumentária. Os Mistérios do Sexo, a roupa desmontou em cena, porque era só um pedaço de tecido todo costurado com elástico ... Não era uma roupa montada, estruturada. Era diferente. Nos Mistérios do Sexo o que acontecia era a questão do homossexualismo, nós fizemos essa montagem em cima dessa estrutura de mudança, de falar de uma coisa que hoje todo mundo fala ... e dentro dessa estética nós construímos uma nova linguagem, uma nova visão dentro da cena pernambucana ... Que é que existe de novo na cena pernambucana? Será que existe essa revolução? Eu não tenho visto isso, não ... A arte é a ciência mais avançada. E tão avançada que ninguém sente o avanço... A gente sentia que quebrava e sentíamos que éramos perseguidos porque quebrávamos... Era essa mudança que não era racionalizada, era vivenciado, era intuitivo.



O publico participava diretamente. O ambiente era estruturado onde a plateia, como espectadora, passava a ser atriz também. A cena era inteira, os atores trabalhavam no meio da plateia, os espaços, sala, cozinha ... Era dividido naquele espaço e o público participava... A plateia vivia o que o ator estava interpretando não como persona, o público sentia o ator ... A nossa intenção era para as pessoas sentirem.



Eu acho que a questão do amor é inerente a minha pessoa. Eu acredito no amor. Mas vou te dizer uma coisa: eu não me sinto esvaziado. No sentido do teatro, é isso que eu estou entendendo? Esse amor permaneceu, agora esse esvaziamento do teatro que eu coloquei no ponto de vista meu, eu coloquei pra mim.

O teatro pernambucano, eu não convivo com os grupos de teatro porque eu não quero ser severo demais, mas eu acho que a coisa é mais do ponto de vista profissional do que do ponto de vista criativo. Não é que pra vocês ser profissional, deixa de ser criativo ou tenha que ser criativo. Eu acho que tenha que andarem juntas e o profissionalismo deixa você muito distante dessa relação de unidade ... De amizade. Hoje a nova filosofia, esse novo paradigma, ele leva para que você veja a coisa sistemática. É uma coisa mais mecanicista. E dentro desta holística as pessoas estão depois de 30 anos resgatando isso. Eu acho que talvez essa cena pernambucana, ela abstraia novamente essa unidade de fraternidade, de participação.



De uma forma muito lúcida, nós trabalhávamos a lucidez. Mesmo dentro da revolução que estava tendo também em relação à estrutura mental das pessoas, nós trabalhávamos com muita lucidez, mas tinha hora que você tinha que partir para uma situação que fugia a essa lucidez orgânica e você tinha que ser um pouco mais severo. Mas essa severidade era racionalizada .... Uma coisa é você dar sua atenção de um momento, de uma cena; outra é você perceber essa visão e transcrevê-la .... Agora com o público eu era severo: quando o público não era muito receptivo, nós tínhamos que ir pra um jornal, uma revista, discutir com os alunos ... O pessoal da revista ia, o da escola ia e nós éramos incisivos, nós sabíamos que a nossa fonte de vida era o público ... Hoje ele é pedagógico, na época ele era revolucionário, ele não tinha essas características do que nós temos com o pedagógico, sistemático. Era o pedagógico da mudança ...

A partir do TAO, nós tivemos o Vivencial Diversiones. Ao nível de grande público, nós trabalhamos As Preciosas Ridículas . Depois, trabalhamos com algumas montagens do TUBA na Católica e no meio da rua.

Agora eu me sinto mais preenchido ainda. Para eu ser ator, ser encenador ... Não é a missão, a missão é a mudança, e a gente enquanto educador tem feito a mudança ... Eu estou trabalhando no ponto da cênica, no ponto de vista estrutural ...

O palco hoje é a sala de aula, onde eles estão fumando maconha ... E a gente diz que não é por aí ... Eu acho que isso é o verdadeiro teatro ... Não querendo desmerecer o ator que vai para o palco que interpretam um determinado personagem ... Eu não posso me desvincular da sociedade ... Eu não posso viver bem dentro da sociedade, se eu não participar diretamente das mudanças que ela requer que aconteçam ...



Eu acredito que os meus sonhos são muito loucos e eu nem sei se posso revelá-los aqui. Eu acho que seria assim, um grande espetáculo, onde as pessoas pudessem ver tudo o que elas precisam, não obrigatoriamente.



Para o encenador hoje, a pedra no sapato deveria ser beber na fonte e não está ninguém bebendo, está se fazendo uma coisa estratificada ...



Eu quero que vocês se sintam bem dentro desse trabalho e quero que vocês cresçam dentro desse trabalho ... Eu desejo, eu anseio que vocês consigam ver realmente essa missão do teatro ... Não é para o individuo, é para o coletivo ...



16 de fev. de 2013





Um Encontro no Teatro de Santa Izabel
JOÃO FALCÃO; JOSÉ FRANCISCO Fo; HENRIQUE CELIBI; CARLOS BARTOLOMEU; JOÃO VANCINI

2 de fev. de 2013

Do RISO para os LIVRES

Do RISO para os LIVRES – Carlos Bartolomeu



 

 O riso é libertador. Nos liberta do pensamento. Nos libera para o agora. O riso nos desprende e nos faz apreender o nenhum, esvaziando-nos do que não seja presença e autenticidade do instante.

 Toda arte a ele associada, nunca aspira ao topo, às dimensões de mando ou do reconhecimento não está incluída como necessidade dos gêneros que para ele acorrem.

 O riso desconcerta e nos acolhe sem subterfúgios. Rir-se de si. Rir-se consigo. Sorrir, gargalhar com os seus, isto nunca será demasiado.

 Excessivamente, temos por orientação e crença ilusória, o senho carregado, a sisudez e todo arremedo de uma falsa dignidade. As amarras revestidas de grandiosa tristeza rejuntam o conformismo que em nossa cultura se instala diante de bens libertadores.

 A espantosa eficácia do riso em sua capacidade de demolir embustes e toda funérea aura, é por isso mesmo detestada e detestável aos olhos daqueles que se imolam ao arbítrio (i)legitimo da mascarada seriedade.

 Rir-se é sobriedade também. 01/2012

5 de dez. de 2012

ENTREVISTA CONCEDIDA NA GAZETA CULTURAL DE PERNAMBUCO



Entrevista com o encenador e poeta Carlos Bartolomeu
3 de dezembro de 2012 gztdaniela


Carlos Bartolomeu é encenador, poeta e professor de Teoria da Arte, da Universidade Federal de Pernambuco. Conhecido por seus atores e amigos como Bartô, não deixa de expôr as verdades necessárias, dentro ou fora da cena. Querido no meio teatral pernambucano, e diretor de extremo bom gosto em suas concepções cênicas, se destaca através das suas montagens, seja dentro ou fora do ambiente acadêmico. Todos querem ser dirigidos por Bartô, não é à toa as montagens premiadas e os caminhos estéticos estabelecidos por ele. Nessa entrevista vamos conhecer seu trabalho e o que pensa a respeito de Nelson Rodrigues e suas grandes invenções, que tanto contribuíram para o teatro brasileiro.



 CARLOS BART ao lado da estátua do poeta JOAQUIM CARDOZO



GAZETA CULTURAL PERNAMBUCO: QUAIS SÃO AS SUAS PREFERÊNCIAS ESTÉTICAS QUANDO CONCEBE UMA MONTAGEM TEATRAL? QUAL SEU PONTO DE PARTIDA?

Carlos Bartolomeu: Formular um espetáculo do ponto de vista do encenador deve ser entendido com um esforço na tradução de sua própria poética. Do meu ponto de vista, a criação da cena revolve sentimentos e conhecimentos que teimam em expressar uma visão de mundo próprio. Reitero com isso, certo descompromisso com as convenções antecedentes que seriam tomadas como modelo, mesmo quando essas são legítimas, consagradas no mais arcano do universo teatral. Inclino-me muitas vezes a mitificar, sublinhar aspectos particulares do meu mundo íntimo. A minha percepção do universal é feita da conversa dentro em mim com as lembranças de falas das ruas e das gentes de fato, e as da invenção e do sonho. A verdade do que seja real em mim é apreensão de poesia e das dores pequenas.

Pratico um teatro mestiço, barroco na tentativa de se deixar comunicar, perdulário nas mesmices reveladoras do estar sempre escapando para dentro de si mesmo. Subjetivamente objetivo, dentro das crendices de minha suposta teatralidade. Duvido do trágico no agora em que vivemos, e escapando da cena dramática no palco para aspectos de um imaginário cinematográfico, dimensiono recortes arbitrários de minhas recordações, fotos de infância, gosto e mau gosto, lirismo, paisagem radiofônica, melodrama e toda uma sorte de bobagens, clownerie. Roteiros… Roteiros… oswaldianamente. É amor de namorado as ilustrações, escuta de sussurros que me possam surpreender, embaraçar.

Ao tecer a cena me alegra cair no abismo e dissolver-me na reinvenção do já inscrito. Agrada-me sempre a quebra do espelho que é o texto dramatúrgico, da imagem literária desventrando-se e abrindo-se à espetacularidade. A presença de um ator na misteriosa substancia de ‘gente’ dialogando com a visão criativa do encenador, devolve aspectos humanos e de uma frágil sabedoria ao palco mais que todos os compêndios do que seja encenar. Bem ou mal, um ator nasce do diálogo. E o dialogo da encenação nunca está escrito, é a importância da conversa e a negação desta nos diversos níveis de criação. Espera-se de mim certa compostura, mas, adoro ser bufão nesse papel de condutor.

GCPE: POR VEZES OBSERVAMOS EM CERTOS DIRETORES A VISÃO CÊNICA COMO UM TODO. E O ATOR? COMO É SEU PROCESSO DE DIREÇÃO DE ATORES? QUE CUMPLICIDADE ESTABELECE E O QUE EXIGE PARA O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS EM SUAS MONTAGENS?

CB: Meus espetáculos sempre partem do ator que eu tenho em mãos. Isto pode ser excelente, como também pode se tornar enfadonho e regressivo, no tocante, aqueles intérpretes sem coragem de entrega. Há atores de natureza intelectual e reflexiva; outros existem cujas personalidades transportam um sem numero de ricas vivencias emocionais. Ambos são possuidores da energia vital às transfigurações. Aprecio tal diversidade, e verdadeiramente ouço suas fraquezas, tomando eles pela perspectiva da reinvenção. Tal dinâmica imprecisa, mais poética, a meu ver empresta significado as interpretações de atores e encenador, dispondo na direção do presente todo corpo criativo da montagem teatral.

Imagino eu, que todos compreendam a importância da liberdade e originalidade de pensamento e da ação do individuo na jornada criativa. Não desmerecendo a cópia e seus apreciadores, até porque em muitos casos esta pode ser bem melhor que o original, penso que o atrevimento em desmascarar-se, é o mesmo que se mascarar, condição sem a qual toda teatralidade perde o brilho. Procuro na medida da sensibilidade de meus intérpretes, confiar que suas criações se processem para além de modismos teatrais. Escutar é um dever sagrado no nosso oficio. Forçar uma audiência a compreensões de uma obra é temerário, para mim a entrega absoluta é se calar as explicações e no abandono da pratica dionisíaca, realizar. Não me importo de fato, com desdobramentos daquilo que emerge da minha obra.

O Teatro é um sinal sobre os batentes de uma porta que estando aberta, pode ou não ser visitada. Entra em minha casa todo aquele que saiba o quanto a alegria é uma festa, a dor é passagem, pois tudo se acaba e se encaminha para o vazio. O teatro vivo é repleto deste silêncio, desse não significado. Aquele que pisa o tablado sabe o quanto somos filhos da invenção, mas também concreção de idéias, humores e emoções universais. Carne e osso. Sombra e luz. Do teatro, amo a relação criadora, a criativa caminhada que não tem fim. Dessa perseguição amorosa, o encenador é artífice inaugural e penso que o menos compreendido, apesar da aparência de potência, dono da última palavra, o que de fato não corresponde a verdade. Nem mesmo o público é este senhor. O Tempo este sim é em definitivo o dono da criatura e criador, visto que em seu aspecto mais recôndito toda arte sonha a imortalidade, o futuro.

GCPE: QUAIS SÃO SEUS TEXTOS PREFERIDOS E QUAL DELES JÁ MONTOU? FALE SOBRE OS PRÊMIOS QUE JÁ RECEBEU:

CB: Gosto das tragédias gregas e sempre acho, que depois delas, o Texto como cerne do teatro deu lugar à possibilidade ao arbítrio, da criatividade pessoal dentro da Cena. Instalando a soberania de vozes diferentes da original, quebrou as fronteiras do compromisso primitivo do teatro em honrar determinadas normas do sagrado de sua realização.

Quando falamos de teatro, pensamos primordialmente e erroneamente nas características textocentricas. O texto teatral é um dos seus elementos. Há outros, tão ou mais importantes, ao sabor das novas vontades e critérios da arte. O diálogo do teatral com as inovações em diversos campos artísticos tensiona sua ação, motivando originalidade e mudança constante. Teatro é crise. A característica da teatralidade é a incorporação do surpreendente que iluminando o lugar comum, redescobre no já acontecido, potencialidades de contar-se novamente, catalisando cumplicidade na observação do atuante e do espectador. Numa montagem esse efeito-síntese tem dimensão ritual. Todo veio da teatralidade nos leva a quebra do pensamento como centro, inaugurando no vazio a desarticulação do entendimento racional. É revelação e esta é indizível. De qualquer modo, uma apreciação pessoal não determina necessariamente uma realidade, sempre é poesia da poesia, nada mais.

Quanto a ser premiado tenho a alegria de ser ganhador do “SAMUEL CAMPELO”, em três ocasiões como encenador. Fui premiado com o “Troféu Carlos Pena Filho” de montagem, tendo também recebido mais três vezes, o prêmio de melhor encenador no Janeiro de Grandes Espetáculos. Tive a honra de representar Pernambuco em alguns festivais nacionais com títulos como ‘A Mais Forte’ de Strindberg, ‘A Vida Diva’ de minha autoria e ‘Madleia + Ou – Doida” de Henrique Celibi. Como escritor produzi:” O Testemunho de Atores: Panorama do Teleteatro da TV Jornal do Commercio”;TEATRO SUSPEITO; “Cartas de Prego – Instruções de Abordagem & Desculpas Cênica e A Testemunha Criativa nas Encenações.



GCPE: ESTAMOS HOMENAGEANDO NELSON RODRIGUES NESTA EDIÇÃO. FALE UM POUCO SOBRE ELE:

CB: Penso em Nelson como um daqueles pernambucanos migrantes, defrontado com a realidade do distrito federal, retirando de seu capital emocional, do lastro da cultura recifense e da sua história familiar o capital necessário para vencer a medianidade de um tempo.Um artista grandioso em sua relação de comunicador, artesão de conceitos inovadores. Provocador e vencedor. A natureza de seu brilho é o abraço sincero e completo que ele empreendeu as coisas e seres deixados à margem. Como autor e homem, ele nunca se evadiu de percutir em seu imaginário, a ambigüidade das idéias que o conduzia, ou dos pontos de vista que o mesmo teceu. Apesar disto ou por isso mesmo, sua ação teatral é sem sombra de dúvidas a mais corajosa e verdadeira do teatro brasileiro. Nelson nunca se poupou de traçar na mestiçagem de seu DRAMA, as tramas oriundas da linguagem do jornal, a mimesis cinematográfica e o despudorado gosto por gêneros ‘menores’ da dramaturgia. Ele mesmo era um encenador da própria palavra. A sua obra percorre o simples e o sofisticado, indo do ardente a preciosa concisão. Ao lado de um João Cabral e de Manuel Bandeira penso que compõe a trilogia dos grandes criadores de Pernambuco do século que passou, no sentido da redefinição de novos horizontes das artes do Brasil, quanto na perspectiva de emprestar a obra, um cunho pessoal indelével e audacioso. A riqueza subjetiva de tais criadores ilustra o horizonte geral no qual se debruçaram.



GCPE: SE FOSSE ESCOLHER UM ESPETÁCULO DE NELSON RODRIGUES, QUAL DELES MONTARIA EM HOMENAGEM AO SEU CENTENÁRIO? PORQUE?

CB: Gosto demasiado de Nelson par atribuir uma estima específica a esta ou aquela obra. Todavia, projeto “Toda Nudez Será Castigada” e Vestido de Noiva” na classe das obras artísticas que atravessarão o tempo, preservando a forma e adaptando-se ao crivo existencial das épocas subseqüentes. As sinto como ‘clássicas’ no nascedouro, depositárias de uma capacidade de refletirem a sociedade ao longo dos tempos, a um só tempo renovar a possibilidade das invenções cênicas.

GCPE: QUE TIME DE ATORES ESCOLHERIA PARA ESSA MONTAGEM? QUAIS SEUS ATORES PREFERIDOS?

CB: Pensando como encenador, diria que gostaria de ver um ‘time’ de bailarinos e cantores encenando uma versão qualquer de alguma obra de Nelson Rodrigues. De fato, anos atrás criei um roteiro para balé de ‘Vestido de Noiva’. Eu e Monica Jápiassu pretendíamos realizar esse trabalho. Não podemos finalizar tal edição. Contava com um elenco liderado por Maria de Jesus Baccarelli e Bernot Sanches. O roteiro guardei-o, a vontade de realização também está preservada.

GCPE: NELSON RODRIGUES TEVE UMA VIDA FINANCEIRA MUITO SOFRIDA, PASSANDO POR FASES DE EXTREMA POBREZA. CONTEXTUALIZE ESSA CONDIÇÃO COM A REALIDADE DOS PROFISSIONAIS QUE VIVEM DE TEATRO EM PERNAMBUCO:

CB: Nem pensar, Nelson nunca concorreu aos ‘funculturas’. Respeitando a concorrência prefiro ver o Nelson na realidade de seu tempo. Um jornalista que vivia de seus escritos. Acho que dificilmente ele seria – reconhecido- pelas mesas de julgamento e premiação. Afinal era um obsceno: um fora da cena, sim. Criador delas.

GCPE: VOCÊ CONSIDERA O “ANJO PORNOGRÁFICO” UM PERVERTIDO OU UM ESCRITOR QUE DENUNCIA O FALSO MORALISMO DA NOSSA SOCIEDADE?

CB: A poesia de Nelson pode e deve suportar e potencializar tudo isso. Perversão, angelismo, pornografia são dentro da linguagem do humano, forças de luz e obscuridade presentes na criação de todo artista real. Se ouvirmos bem as vozes que ecoam da garganta Rodriguiana, vamos saber do timbre viril de uma moral soberbamente bem resolvida. Para Nelson existe o mal, há o pecado, a tentação e a dificuldade de redenção fora da moralidade verdadeira. A condenação em Nelson está sempre presentificada na desfaçatez do disfarce. O sujeito falso moralista é o câncer da epopeia de Nelson Rodrigues.

GCPE: NELSON RODRIGUES FOI UM TRANSGRESSOR OU UM TRANSFIGURADOR DO NOSSO TEATRO?

CB: Nelson foi um anjo, Só.



25 de out. de 2012

ATORES DO ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL -CIA DO CHISTE
ENCENAÇÃO: CARLOS BARTOLOMEU

   ATORES DO ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL - CIA DO CHISTE -

                                            ENCENAÇÃO CARLOS BARTOLOMEU

TEXTO DE ABERTURA ( esse texto foi lido pelo encenador CARLOS BARTOLOMEU quando da apresentação do festival no recife, denominado Janeiro de Grandes Espetáculos/2005/6).


Senhoras e senhores sejam bem-vindos ao Teatro ARMAZEM-, esta noite apresentando: ATORES DO ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL, uma realização da COMPANHIA DO CHISTE – os Comediantes de PE.

De inicio, assistiremos – ATORES DA NOITE, uma indizível peça, cujo autor, Carlos Bartolomeu, seguindo a onda que afeta e impulsiona o teatro local, também dirigiu, e criou outras coisitas mais deste espetáculo, interferindo substancialmente em outros tantos...

Em seguida, subirá à cena, o hilariante testemunho cênico de Walther Moreira Santos – O CORAÇÃO É UM ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL. Para sermos bem verdadeiros, informamos ao publico que o autor não suportou a encenação de sua obra, amaldiçoando a perda do caráter romântico-doris/hudson de sua escritura.

Aos que temem espetáculos de longa duração, informamos que este é de mais ou menos duração. Todavia recordamos que neste horário vocês já estariam discutindo a respeito do espetáculo das 20 horas, OU não. Criticando as soluções que a direção levou meses para desenvolver e maturar, às vezes.

Para efeito pedagógico passamos agora as instruções que facilitarão a interação palco-platéia, figura-fundo, sujeito-objeto... Eis: Regras Básicas para Assistência de Espetáculos pós-Brega épico, assumidamente pop parnasianos.

1º: O espetáculo divide-se em dois atos. Haverá um intermezzo entre eles. 2º. A primeira peça precederá a segunda, e esta será apresentada depois.

3º: No afã de entenderem a proposta de encenação, desconsiderem rapidamente tal pensamento. ‘ATORES DO ÓRGÃO IRRESPONSÁVE’ muito sofisticadamente encerra a temporada de idéias, filigranas teóricas e exageros conceituais. De volta ao ‘nadismo’ local, toma de empréstimo as tecnicalidades, procedimentos artísticos e profundezas inconscientes da criativa classe de obscuros interpretes que despontam para fama. Nosso trabalho implora, pede compreensão, reconhecendo-se abaixo das expectativas e idealizações de tão valorosa comunidade. Qual seja a Comunidade dos Artistas Ambidestros da Dramática Pernambucana.

Que Viva a Graça! A doce baixaria e a irônica certeza que se acabarmos um dia, não faremos falta. Mas, o mundo terá com certeza se tornado pobre, muito pobre.

4º, última e inútil instrução: Como gênero podemos dar a este espetáculo a denominação de in-comédia. Não out nem over. “In comedia”. O exposto não nos obriga a risíveis arroubos, há um risinho interior, um deboche implícito também. Na cena cômica, a gargalhada de um é dor de outro. O fruto desse exercício é um certo, sentimento da leveza; pobreza; desapontamento e... Esperança.

Desliguem os telefones moveis, bips e similares e ao contrário de outros eventos, é permitido alimentar aos atores, contudo solicitamos a utilização de salmão e vinho tinto. Ou NÃO.

Aos meus atores e equipe técnica deixo as bênçãos de Nossa Senhora do Carmo, excelsa padroeira do Recife, o orgulho de suas mamães, e as lembranças de Dalva de Oliveira, Edith Piaf e Billie Holliday. Mais veado do que isso impossível. Merda para todos.

26 de ago. de 2012

Há um desproposito no queixume daqueles que cobram a presença de políticos na cena artística local, tipo: estréias teatrais, quermesses de bairro, saraus de mães de misses, bailaricos teens... Digamos que nem é bem assim, ponto. Há politicos que já deram o ar de sua sagacidade emulando artistas, cantores, atrizes, produtores culturais de nossa cidade. Não elenco nomes pra não ser citado junto a j...
ustiça eleitoral. Depois, nun estou afim de puxar saco desta malta. Convenhamos que ha eventos 'personalizados' que foram bem visitados pelos nossos 'princips'. Sabe-se também, de gente que recebeu, dado sua importância cultural (kkkk) benesses e recompensas fartissimas... Nesses casos nem necessitando da visitas dos tais reclamados ilustres. Todos sabem nomes e acontecidos, todos comentam a sorrelfa (kkkk), mas, toda classe emudecida aguarda sua vez na fila da possivel benemerencia futura. Atualmente bate-se em cachorro morto, posando-se de arbítros de uma consciencia límpida ... quá quá quá... Um silencio constrangido e hipócrita nivela por baixo nossa classe. Tudo bem? Tá, tudo bem. Somos pobres artistas sem espaço, voz e defensores da causa. Mas, o que dizer, desses que nun arremedo de opera bufa, gente que sendo paga para ver, comentar, fomentar o discurso crítico do publico em jornais e nos meios de comunicação em geral, silenciam; desvirtuando a comunicação do fato artístico em prol da exaltação do silencio. Nada a dizer não é? O que podemos retirar de tais evidencias, é que somos sem sombra de dúvidas, das noticias ditas culturais, as primeiras em desimportância. Salvo engano, ha nesses casos, o tratamento entre amigos, e as relações de compradismo e de 'brodagem' impulsionando o testemunho, o documento. Lamentável ouvir da classe artística o sussurro desdenhoso sobre a performance da intelligentsia midiatica local. Lamentável ser apenas um sussurro. Carlos bartolomeu -26/08/12
 

9 de jun. de 2012

DIA 04 DE JUNHO PASSADO A CIA DO CHISTE REALIZOU SEU MAIS NOVO LANÇAMENTO:

A TESTEMUNHA CRIATIVA NAS ENCENAÇÕES.



LUGAR - TEATRO BOA VISTA
HORA - 20 H

                                         SANDRA RINO - CARLOS BARTOLOMEU E ULISSES DORNELAS
                                                                        MATEUS
                                            CELIBI GEISA EU ULISSES PASCOAL E DUDU
EU/JOSUEL ANDRE


 GEISA BARLAVENTO,CARLOS BART,ULISSES DORNELLAS, PASCOAL FILIZOLA,EDUARDO FILHO
 O PÚBLICO
O CHISTE
                                      ULISSES DORNELAS E CARLOS BARTOLOMEU                 
                                    CARLOS BARTOLOMEU E JOMARD MUNIZ DE BRITTO

ROSAS...





                                                                          O ÚLTIMO DOS IRMÃOS EVENTO
MAURICIO


                                                                                          JAMYSSON MARQUES
                                                                                                           e JOÃO
                                                                                              BETH eTHIAGO