7 de abr. de 2013

                                 A VIDA DIVA Texto e direção CARLOS BARTOLOMEU






ARTES CÊNICAS/ CADERNO C-  DP

Atrizes refazem o caminho no palco

Publicado em 10.09.2005

Augusta Ferraz, Magdale Alves e Nicole Pastana evocam lembranças de grandes intérpretes do cinema no espetáculo A vida diva



JANAÍNA LIMA

Em ano de poucas estréias teatrais, uma nova peça é celebrada sempre com entusiasmo. E quando a montagem reúne atrizes experientes como Magdale Alves e Augusta Ferraz, as expectativas dobram. Hoje à noite, no Teatro Apolo, as duas e mais Nicole Pastana – atriz mais jovem, mas que vem se destacando a cada peça – apresentam ao público seu novo trabalho: A vida diva, montagem de Carlos Bartolomeu. Outro motivo de comemoração é que nos últimos anos é cada vez mais raro este diretor fazer trabalhos fora da esfera da Universidade Federal, onde leciona.

Além das expectativas quanto ao elenco a a direção, A vida diva também desperta curiosidade quanto ao enredo. A montagem não segue uma trama tradicional, com personagens de perfis delimitados e uma historinha regular. As três atrizes interpretam exatamente o que elas são, três atrizes, que nem chegam a dizer os nomes para a platéia.

Elas simplesmente chegam e começam a relembrar momentos marcantes de suas carreiras, que no final se confundem com cenas e textos de filmes famosos como La strada, de Fellini, e Como era verde meu vale, de John Ford.

“Bartolomeu fez na verdade um roteiro, com trechos de filmes e de romances. Essa seleção destaca as grandes divas do cinema, frases clássicas, que entraram para a história e ficaram gravadas na memória”, explica Augusta Ferraz, esclarecendo que é daí que vem o título da montagem.

As “divas” dessa história aparecem numa casa escura, onde se abrigam numa noite de tempestade. “Elas buscam abrigo numa vitrine de uma loja abandonada e, esperando a chuva passar, começam a interpretar para elas mesmas”, conta Magdale Alves.

Segundo as atrizes, não há exatamente um diálogo entre as personagens. O texto surge como evocação, a partir da observação de objetos esquecidos na loja. Um ramos de flores secas lembra o ramalhete de rosas deixados no camarim por um desconhecido, um velho rádio traz à tona aquela canção amorosa que marcou, o baruho da chuva lembra outro temporal, que teve direito a beijo sob o guarda-chuva. “É como se, com esses depoimentos, elas refizessem o caminho do ator”, diz Augusta.

Já que o assunto é cinema, as atrizes foram buscar referências nas verdadeiras divas do cinema para compor suas personagens. Augusta Ferraz diz que investigou o universo de Ava Gardner, mas também pinçou algo de Dercy Gonçalves. Nicole Pastana trabalhou a partir de Audrey Hepburn, e Magdale Alves visitou as obras de Doris Day, passando pela brasileira Dalva de Oliveira. “O cinema está muito presente na vida da gente. Quando comecei a carreira de atriz, via muitos filmes. Sempre fui buscar algo no cinema para compor minhas personagens”, relembra Magdale, que, há umas duas décadas atrás, correu para arranjar alguém que tivesse um vídeo para assistir a Boca de Ouro, quando fez a peça no teatro.

O espetáculo utiliza figurinos anos 50, assinados por Marcondes Lima (que também fez o cenário), e trilha sonora do próprio diretor. Bartolomeu pinçou músicas orquestradas, bem ao estilo de Hollywood, e hits como As time goes by.

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