4 de dez. de 2009

Discurso aos Formandos de 2006
Centro de Artes e Comunicação
Carlos Bartolomeu


Boa Noite, a todos os presentes!
Caros colegas professores, funcionários e representantes de nossa instituição: a Universidade Federal de Pernambuco.
Demais convidados, pais e alunos.
Estamos em casa. Respirem...Serei breve.
Sorriam de si para si mesmos. Aceitem essa hora de alegria. Ouçam suas mais profundas motivações, e, mesmo aqueles que se sintam inconclusos, peço, não recusem o instante da união.
Entre tantas outras coisas, é disso que essa cerimônia trata. É o discurso real que toda pompa e circunstância de uma festividade como a nossa deve traduzir.
Alegria... Contentamento.
A conclusão de um curso significa, assim como todos outros epílogos interpretados por nós, seres humanos, nada mais, nada menos de que passagem.
No nosso caso espera-se que mais conhecimento seja acrescido.
Entretanto, todo término é tão somente: passagem. Intermezzo.
A busca incessante por recuperar ‘aquilo tudo que poderia ter sido e que não foi’.
Outra vez e mais outra.
Acreditem, existe em rituais como o que agora interpretamos, uma subjetiva, profunda indicação de tempos que se seguirão.
Tempos positivos! Espero. Tempos mais positivos.
Expresso a opinião, de que lá, bem no intimo, se vocês imprimissem maior força aos quereres verdadeiramente vitais, escapando do apego ao – EU VOU DAR CERTO; EU VOU SER UM SUCESSO, e reunidos à canção mais infantil de suas almas afirmarem: EU VOU SER FELIZ, o fato efetivamente acontecerá.
Reverterão todos os tempos negativos, e saberão que ‘a alegria é a prova dos nove’.
Isto sim, será a solenidade maior de cada um de vocês. Provocante, pessoal, intraduzível.
Insisto, não devem potencializar o desejo vaidoso de se tornarem - o cidadão de recursos, do protagonista da história -. Antes, o de viventes, e observadores da narrativa de suas próprias vidas.
E pelo amor de Deus, não se recriminem!
Dêem-se a chance de recomeçar, sempre.
Viver é movimento.
Concluir um curso faz parte das experiências de uma vida. Há outras tão grandiosas e necessárias, sendo que a maior de todas, será sempre a experiência de exercermos a Amorosidade.
Amar é afirmativamente compreender, aceitar e prosseguir. Trabalhar está indissoluvelmente ligado a tudo isso.
Amar nos possibilita a inteireza de nossas ações e nos incita a continuidade, ao desapego, mesmo quando achamos que não podemos, não devemos.
Não pensem que estamos aqui por obra do acaso, ou que houve erro nas escolhas feitas. Ao final, tudo se ajusta, e nos é dado compreender. A cada um, conforme sua maneira de ver e sentir.
Insisto em tal pensamento, para que também, eu possa entender o sentido do recomeço.
Reiniciar todos os anos e dias, todos os segundos.
Dar continuidade a continuidade. Prosseguindo na transmissão daquilo que aprendi com outros, e que com outros aprenderam antes de mim. Rito que me faz reencontrar o antigo
Levantar-me, encher-me de esperança, refazer o mesmo caminho, ocultando encontros e desencontros, À alternância de máscaras Sentir que muitas vezes se necessita do silêncio e da distância, e se ver negado a tal vivência.
Por isso mesmo, repetindo o dever de ir neste movimento, verdadeiramente encontrar-se.
Ao final, deixar de lado tudo. Tudo.
Aceitar que na vida, só pode ser explicável toda uma realidade assim, porque ela sintoniza com o bem maior.
Anseio que minhas palavras possam transmitir aos que estão aqui, e prioritariamente aos formandos dos diversos cursos, a mensagem necessária a um momento como o que vivenciamos.
Anos atrás, passei por tal experiência; como de resto, todos aqueles que formam a assistência, aqui, ao centro do palco.
Por mais, que tratemos esse tipo de situação em perspectiva, na possibilidade de reduzirmos o acumulo emocional que a memória nos impõe; raciocino, que a conjugação de lembranças, assim, nos direciona a aceitação daquelas realidades que não podemos alterar.
Penso que através delas, e no exercício que elas imprimem dentro de nós, sobressai a coisa meramente humana e sua busca em estabelecer o contato com o imperecível.
Digo isso, tendo em mente a tarefa de que cada um deverá empreender; qual seja, a de avançar em direção ao futuro.
E o futuro é o espaço do possível. Não temam.
Prometam a si mesmos que quando o medo vier, vocês estarão com vocês.
É apenas dessa pessoa que vocês necessitarão nessa hora. E vocês enfrentarão tal sentimento com a força que somente a suavidade possui.
Isso é muito. Estejam prontos, e ‘estar pronto é tudo’. É só.
Por hora, devo despedir-me, dando passagem a uma frase que me tem acompanhado e iluminado às horas determinantes, horas em que a vaidade me retira do Caminho do Meio, dos momentos em que eu me esqueço que pertenço ao Infinito, e de que somos filhos das coisas verdadeiras e simples.
Tal fala mora a tanto tempo em mim, que talvez não saiba enunciar seu verdadeiro autor, o nome que me salta à lembrança, é do escritor norte americano Wallace Stevens, e a frase é a seguinte:
‘É assim que terminam todas as coisas, não com um estrondo, e sim, com um sussurro...’.
Fiquem em paz.
Boa Sorte! Boa Noite!!

Recife, julho de 2006

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