11 de jun. de 2008

(Lembrando belas escritas sobre o nosso trabalho, destaco este delicioso texto)
Moisés Neto Manuseando o Órgão Irresponsável da COMPANHIA DO CHISTE
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> Na noite de 27 de janeiro de 2007 a lua estava caolhando no céu de verão do Recife e em Carlos Bartolomeu o anti-humano se transformou em três rapazes práticos no meio do nada pós-moderno que comporta a tribo e a tecnologia: ATORES DO ORGAO IRRESPONSAVEL é o nome do espetáculo apresentado naquela noite no Teatro Armazém, pela Companhia do Chiste.
> Num discurso e encenação ímpares o magnânimo mestre Carlos exercita suas portas fechadas na estréia de um espetáculo bastante divulgado e saído de temporada no coração da metrópole.
> É festa de criança inteligente que recebe os convidados, ávidos de ratoeiras e/ou risadas: não se abrem as cortinas. Reggae outside, stars, the rivers, the boat, that strange ship and the master near us. Pascoal, Rodrigo, Rogério- god save our dear actors. Sparkling! É o texto apressado que o Recife merece. Ai de quem esquecer Adamov (francês de origem russa): Bart de forma simbólica denuncia as perseguições que os homens se infligem mutuamente no jogo com o real contraditório: O Homem e a Criança, O Senhor Moderado. Nada será tão pobre quanto não esmolar o Grotowski ou não tatear por ferrolhos e trancas nas janelas impenetráveis de Artaud e da tropical neve russa minando a quarta parede de cinzas do mais peculiar carnaval pra lá de Bakhtim.
> É uma encenação onde o tropos, aqui numa acepção quase litúrgica, dramática, arrisca unir atração e repulsa.
> O jogo do encenador com os atores é de superação da mediocridade, tornando-a quase asséptica máscara de concepção/ feitura híbrida.
> Não seria necessário apresentar o espetáculo ao público, pois este é acessório do luxo-lixo.
> Sublime gema brilhou no janeiro à beira do atlântico ventilado. Era tudo que eu precisava naquela noite. Vesti preto e acompanhado por João Augusto e Simone encontrei José Francisco, Ivonete Melo no meio dos vários espectadores. Nos instalamos quase confortavelmente, mas de modo maravilhoso extremamente saudável para beber a Ambrósia que seria servida gentilmente, mas com muita severidade e humor, fundamental nestes casos. A lua furando nosso zinco salpicava de estrelas a cena que testemunhamos: cheia de confetes e serpentinas, flores...
> Há como não se ajoelhar diante de tamanho amor com o de Bartolomeu pelo Teatro?
> Ele transformou seu próprio corpo em arte e o ofereceu em novíssima bacanal. Mandou a incauta/ bem esclarecida platéia soprar, lamber, chupar, aprender a Lição de Ionesco. Quebrou a panela da cabra cega. Era o aniversário de alguém que comemora várias vezes a mesma idade(os quarenta). É festa à italiana: Em certo momento Visconti sentou ao meu lado! Fellini passou brincando, Pasollinni olhava furtivamente à beira do cais onde estávamos, víamos pela grade o rio e o mar sacolejando, o céu, os barcos (à esquerda) e à direita a platéia e a cena do chiste. . Fagulhas voaram, estrelas reluziram.
> Se Plutão não é mais um planeta, aí é outra história.
> O intervalo para achegada das Bacantes na segunda parte remexeu o jogo, desarrumou as casa para nova brincadeira/corredor da morte e vida anti-severina.
> Jomard foi o primeiro a se levantar no final cantando e batendo palmas. Soube que Lúcia Machado cantou também. Augusta Ferraz, toda vestida de branco, sorveu rapidamente uma skoll ao entrar. Abracei Bart, Bartô, Bartolomeu, Carlos no final. Já passava da meia-noite, já era domingo, o espetáculo começara na noite do sábado.
> Eu fiquei em estado de choque, pois sou elétrico.
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Moisés Neto
> Recife, vinte e oito de janeiro de dois mil e sete
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