16 de jul. de 2007

CHISTE 1 ( para ir comprendendo a Companhia do Chiste)
Lacan revisita o chiste de Henrich Heine, comentado por Freud (Os chistes e sua relação com o inconsciente, 1905).
Um agente de loteria, pobre, vangloria-se do modo como o Barão de Rothschild o tratara:
[...] tão certo como Deus deve olhar por mim... tratou-me de igual para igual, de modo bastante familionário. [...]
Há desconcerto pelo equívoco e o enigma aí produzido provocará o riso, uma vez "desvelada" a significação.
Ora, a significação está na formação da palavra: esta deixa um resíduo que lhe é linearmente "familiar" e opera por uma estrutura composta de familiar e milionário, pela técnica de condensação.*
A palavra milionário rebela-se contra sua supressão, aparecendo, exibindo-se na formação familionária, fundindo-se ao mais similar sonoramente, o familiar. O sintagma linear: "R. tratou-me bastante familiarmente, tanto quanto possível para um milionário",revela-se condensado, breve, substituído pela palavra-montagem à primeira escuta inaudível, e, após, desvelada, provocando prazer.
Na verdade temos uma poética da forma-liberadora - que rompe a linearidade do dito, recolocando de forma condensda o princípio poético da similaridade e da equivalência. Do aparecer sem sentido, ao sentido analógico na montagem do termo novo - de um lado, atendendo às exigências do inconsciente, que escapa, e, de outo, na evidência de elementos verbais usufruindo a técnica poética do dichten (condensar).
Lacan reflete: "Familionário - ato falho ou criação poética?"
*negrito nosso
In Chalhub, Samira - FUNÇÕES DA LINGUAGEM. 1993

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